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((((* "O QUE VEM SEMPRE ESTEVE AQUI, A PAZ ESTA DENTRO DE TI E SO VOCE PODE TOCALA, SER A PAZ SHANTINILAYA, NADA EXTERNO LHE MOSTRARA O QUE TU ES. NADA MORRE POR QUE NADA NASCEU, NADA SE DESLOCA PORQUE NADA PODE SE DESLOCAR VOCE SEMPRE ESTEVE NO CENTRO, NUNCA SE MOVEU , O SILÊNCIO DO MENTAL PERMITE QUE VOCÊ OUÇA TODAS AS RESPOSTAS" *)))): "ESSÊNCIAIS" "COLETÃNEAS " "HIERARQUIA" "PROTOCÓLOS" "VÍDEOS" "SUPER UNIVERSOS" "A ORIGEM" "SÉRIES" .

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A VOLTA DE AMI O MENINO DAS ESTRELAS LIVRO 2 & 3- CAPITULO 13, 14 & 15

a volta de ami o menino das estrelas - capitulo 13, 14 & 15

Capítulo 13
Calibur


-Bem, meninos, enquanto esperamos que este aparelho nos "situe" num lugar que, por enquanto, é surpresa, vou copiar em seus idiomas o legado de Krato para a posteridade. Agora podem dar uma volta pelo terraço -disse, dando risada.
Fiquei curioso e quis saber o que aconteceria se eu abrisse a porta, enquanto transitávamos pelo espaço-tempo. Perguntei para Ami.
Ami simulou terror diante da simples idéia. Olhou para Vinka como dizendo-lhe: "que louco"! Mas ela estava apenas interessada em conhecer a resposta. Éramos dois contra um.

-Olha, nem eu mesmo sei o que aconteceria.

Vamos abrir a porta para ver o que acontece -disse ele, levantando-se da poltrona. Seus olhos estavam um pouco arregalados.


Aproximou-se da sala de recepção completamente decidido a abrir-la, mas nós voamos para impedi-lo.
Ele dobrava de tanto rir e, então, compreendemos que brincava.
-Saiam por aí a conversar sobre suas histórias e deixem-me escrever estas cópias antes que cheguemos. Mas não mexam em nada, para que não voemos em pedaços pelas dimensões... há, há!... Isso vai ser difícil para mim... escrever em idiomas indecifráveis...
À sua frente, numa tela, aparecia o alfabeto do meu idioma em várias formas de escrita. Ao lado de cada sinal conhecido por mim, havia outro muito estranho. Enquanto escrevia, apertava teclas. Eu estava distraído com seu trabalho, mas a mão de Vinka tocou meu ombro.
-Vamos deixá-lo trabalhar tranqüilo. Que tal inspecionarmos a nave?
-Boa idéia! Não gosto que me espiem pelas costas -brincou.
Até então, eu não tinha prestado atenção em vários detalhes do veículo cósmico. Fiz uma vistoria com Vinka. Coloco aqui um plano da nave que desenhei de acordo com o que fui me lembrando.

Como havia outro recinto atrás da sala de comandos, fomos conversar lá.
Pelos vidros via-se unicamente a neblina branca reverberando.
-Gostaria de saber o que é que há atrás das janelas -disse ela, com um olhar sonhador.
Ao observá-la melhor, pareceu-me incrível estar conversando com um ser de outro mundo. Ela se aproximou mais e me perguntou:
-O que você sentiu quando me viu pela primeira vez?
-É que... a verdade?
-Sim.
Como não sei mentir, tive que ser sincero.
-Você não me pareceu agradável... e eu?
-Tive a mesma impressão que você, mas meus sentimentos mudaram rapidamente. Agora é diferente...
-O que você sente agora, Vinka?
-Sinto que você é aquele com quem eu sempre sonhei.
Suas palavras expressaram exatamente o que eu sentia por ela, mas eu não o teria feito de forma tão simples.
-É isso mesmo que existe em mim. É algo profundo que cresce e cresce.
Seus olhos cor violeta pareciam irradiar luz. Estava realmente linda. Só de nos olharmos, entramos num transe que nos transportou a outras dimensões...
-Cuidado com os romances proibidos -disse Ami, da sala de comandos.
Não prestamos atenção nele e continuamos ali, olhando-nos.
-Gostaria de poder estar com você para sempre -disse-lhe, segurando as mãos.
Ami voltou a interferir de longe.
-Lembrem-se de que os dois já têm seus verdadeiros companheiros. Devem ser fiéis.
Isso nos fez pensar. Um pouco depois, ela me perguntou:
-Você sente que nosso romance é proibido?
-Não, mas se fosse, não me importaria. Como poderia deixar de sentir o que sinto? Não é coisa da vontade.
-Lembrem-se do encontro no futuro. Lembrem-se dessa pessoa...
Pensei na mulher de rosto oriental. Era verdade que, quando vivi aquela experiência, senti um amor muito grande por ela, mas agora... bem, Vinka era real; a outra, somente uma lembrança.
-Escolho Vinka para sempre -expressei com grande segurança.
-E eu, a Pedro.
Ami ria da sala ao lado.
-Passageiros entusiasmados. Chamas que qualquer brisa pode apagar... como a carne de garábolo ou cordeiro.
Ami havia tocado na ferida. Olhamo-nos com arrependimento por ter-nos julgado duramente. Passando um momento, Vinka disse:
-Pedrinho, aconteça o que acontecer, saiba você o que souber, nunca duvide de meu amor. Você será sempre o único para mim, ainda que a distância nos separe, ainda que tudo nos separe.
Lágrimas surgiram em seus olhos. Acho que senti a mesma emoção, por isso minhas palavras brotaram do mais íntimo de meu coração:
-Vinka, quando não a conhecia, sentia-me só. A partir de hoje, ainda que você não esteja comigo, estará sempre dentro de mim. Sei que nosso amor é para sempre. Com você já não me sinto vazio... não posso explicar melhor, mas você está em mim e vai estar sempre.
Abraçamo-nos. Foi a coisa mais linda de toda a minha vida. Sentimos que, a partir daquele momento, seríamos um único ser...

Depois de algum tempo, Ami, com seu bom-humor de sempre, disse:
-Chega de amores pecaminosos. Venham para cá. As cópias já estão prontas. Além disso, estamos chegando em Calibur.
Abrimos os olhos. Por trás dos vidros, junto de nós, as estrelas destacavam-se num firmamento azul-escuro.
Corremos até a sala de comandos. Lá na frente, detrás das janelas, apareceu uma visão que nos causou um impacto muito grande: dois enormes sóis; um era azul e maior; o outro, branco e menor.
-Aí está: Sírio.
-Sírio? Qual dos dois é Sírio? -perguntei.
-Os dois. Da Terra se vêem estes dois sóis como se fossem um só. Isto é porque estão muito perto um do outro, mas longe da Terra. Estão vendo aquele ponto luminoso?
Ami indicava um pequeno globo azul do tamanho de uma uva.
-Isso é Calibur. Vamos para lá. É um planeta que utilizamos para criar espécies vegetais. É como se fosse um "enorme viveiro cósmico". Tudo foi cultivado por nós. Quando conseguimos alguma espécie diferente, levamos para os mundos que podem necessitar dela.
-Quantas pessoas habitam lá?
-Somente uns poucos engenheiros genéticos, na estação de controle.
Aproximamo-nos rapidamente do círculo luminoso. Quando se transformou num imenso disco que ocupava todo o campo visual de nossas janelas, comprovei que esse mundo não se parecia ao meu planeta, porque suas cores eram diferentes.
Voávamos sobre uma extensa praia de cor violeta, junto a um tranqüilo mar de cor lilás.
Vinka expressou a sua emoção com alegria:
-Isto é muito bonito!... Não poderíamos descer?
-Não há inconveniente. Além disso, prometi a Pedrinho que o traria a estas praias...
Verdade. Isso aconteceu na minha viagem anterior.
-Aqui, as condições de oxigênio, gravidade, temperatura e flora não os afetarão em nada. Nem vocês afetarão o planeta.
A nave parou no ar. Depois pousou no terreno.
-Devo preparar o itinerário de nossa próxima viagem. Vocês podem sair a caminhar por aí. Não temam. Aqui não existe nada que lhes possa fazer mal, mas não comam nada.
A porta abriu-se. Descemos pela escada. Caminhamos pelas suaves areias iluminadas por um sol azulado, tão grande como o que vi em Ofir.
-Mmmmm! Que ar agradável! -exclamou Vinka, aspirando profundamente-. Parece uma mistura de flores e algas marinhas.
A intensidade da luz, apesar do enorme sol, era menor que na Terra, Kia ou Ofir, devido a uma névoa espessa. Aquilo lembrava uma praia ao entardecer, mas de cores infinitamente mais sutis que em meu planeta. Além disso, as areias terrestres não são de cor violeta e o mar lilás...
De mãos dadas, fomos caminhando. Chegamos numa curva. Apareceu um jardim maravilhoso, cheio de plantas floridas que chegavam até o mar.
Vinka estava radiante.
-Isto é o paraíso!
Entramos no meio das plantas, afastando-nos da praia. Mais adiante, encontramos um bosque de pequenas árvores. Estas não tinham folhas e, sim, filamentos delgados. Pareciam artificiais devido às suas cascas tão polidas.

O sol gigantesco punha-se sobre as águas e iluminava o rosto de Vinka, dando-lhe a tonalidade azul-celeste brilhante. Sentamo-nos debaixo das árvores. As folhas caídas formavam um suave colchão por entre as flores.
Durante muito tempo, contemplamos os reflexos nas águas quietas. Eu nunca tinha visto um pôr-de-sol tão estranho e maravilhoso.
Observei que os cabelos de Vinka eram iluminados por uma outra luz: um segundo sol aparecia atrás das árvores, às nossas costas.
-Veja: o outro sol!
-Isto é maravilhoso! O pôr e o nascer ao mesmo tempo!
Rimos com alegria.
Passou um momento. Vinka, com um indício de tristeza, disse-me:
-Acho que isso não é correto...
-O que você quer dizer?
-Sabemos que alguém nos espera, no futuro...
Permanecemos um momento em silêncio. Ela tinha razão.
-Acho que Ami abriu as nossas feridas ao permitir que nos encontrássemos. Ele podia ter imaginado que nos sentiríamos atraídos, podia ter evitado isto... -disse eu.
Ela queria reter aquele momento.
-Mesmo assim, isto foi a coisa mais maravilhosa que aconteceu em minha vida... obrigada, Ami.
Também tinha razão. Só o que perturbava a nossa felicidade era a lembrança de um encontro no futuro.
Senti curiosidade em saber quem era a alma gêmea de Vinka. Talvez, com um pouco de ciúme, perguntei-lhe:
-Como era esse herói?
-É melhor esquecermos aquilo para sempre e pensarmos somente em nós.
-Magnífica idéia. Eu esqueço a mulher do sinal da testa e você esquece seu príncipe azul.
-Como você sabe que era azul?
-Por quê, Vinka?
-Porque tinha a pele azul...
-Então, todas as almas gêmeas talvez tenham a pele dessa cor, porque a jovem que eu vi também tinha a pele assim.
Aquilo a interessou vivamente. Pediu maiores detalhes.
-Eu vinha flutuando pelo ar, perto de uma lagoa onde nadavam cisnes que me cumprimentaram. Os prados, as flores e os juncos cantavam. Ela me esperava em...
-Entre trepadeiras cor-de-rosa e almofadas com franjas coloridas?
Fiquei estupefato. Como ela podia saber?
-Acho que você leu meu livro...
-Se você lesse o meu, encontraria a mesma situação, mas do ponto de vista da jovem que espera...

-É você!

Abraçamo-nos como querendo nos fundir em um só ser, agora sem sentimentos de culpa. A felicidade nos invadiu. Minhas sensações eram muito parecidas àquelas que vivi nesse encontro futuro...
-Chega de romance -interrompeu a voz de Ami. Ele nos observava de pé no meio das flores, sorrindo.
-Você é um mentiroso. -Vinka fingiu estar zangada.
Ela se referia a ele nos ter dito que nossas almas gêmeas estavam na Terra e em Kia. Além disso, tinha afirmado que nosso romance era proibido.
-Quis que descobrissem por vocês mesmos. Não foi melhor assim?
-Mas você mentiu...
-Se lhes tivesse dito algo assim como "quero apresentar-lhes seu companheiro", teria sido algo forçado, obrigatório, sem surpresa; deste jeito, tudo surgiu espontaneamente. Coloquei obstáculos intencionalmente para ver se vocês os superavam. Fizeram-no muito bem.

Caminhando de volta para a nave perguntei:
-Quando será esse encontro no mundo cor-de-rosa?
-Vocês ainda se unirão algumas vezes. Daqui por diante, se procurarão sempre, de vida em vida e se encontrarão. No final, muito depois do encontro que viverão no mundo cor-de-rosa, fundir-se-ão num só ser. Estarão completos. Por enquanto, são duas metades de um mesmo ser, evoluindo separadas.
-E agora, devemos nos despedir? -perguntou Vinka.
-Sim. Logo você voltará a Kia e Pedrinho a Terra. Lembrem-se de que vocês têm uma missão de ajuda em seus mundos. Se não servissem aos seus irmãos, demonstrariam egoísmo. Quem é egoísta não tem um bom nível. Quem não tem um bom nível não merece encontrar a sua alma gêmea. Isso é um prêmio, tem que ser conquistado assim como se conquista um mundo melhor. Se não servirem ao amor, o destino os irá separando. E, se ao contrário, forem úteis aos demais, com maior rapidez, o destino os unirá.
Subimos tristes a escada da nave.
-Vai ser dura a separação...
-Será fácil, porque agora já sabem que o seu complemento existe, sabem que são lembrados e esperados. Além disso, poderão comunicar-se...
-Como? Você nos deixará algum microfone?
-Não é necessário. Quando duas almas estão unidas pelo amor, a comunicação supera o tempo e o espaço.

Capítulo 14
O pergaminho e duas possibilidades

Enquanto nos "situávamos" em algum lugar ignorado, comecei a ler o pergaminho de Krato, tal como Ami o tinha escrito:
Ei-lo:

Amor é um ingrediente sutil da consciência.
É capaz de mostrar o sentido profundo da existência.
Amor é a única "droga" legal.
Alguns procuram equivocadamente no álcool e em outras "drogas" o que o Amor produz. Amor é o sentido mais necessário da vida.
Os sábios conhecem o segredo e só procuram Amor. Os outros o ignoram e por isso procuram o externo.
Como obter Amor?
Nenhuma técnica serve, porque Amor não é material. Não está submetido às leis do pensamento e da razão. Elas é que estão submetidas a Ele.
Para obter Amor, deve-se saber antes que Amor não é um sentimento, mas um Ser. Amor é alguém, um Espírito vivo e Real, que quando entra em nós, chaga a felicidade, chega tudo.
Como fazer com que Ele venha?
Primeiro deve-se acreditar que existe (porque não se vê, só se sente) (alguns o chamam Deus), depois deve-se buscá-lo em sua morada íntima: o coração.
Não é preciso chama-lo porque já está em nós.
Não é preciso pedir-lhe que venha, mas deixá-lo sair, liberá-lo, entregá-lo.
Não se trata de pedir Amor, mas de dar Amor.
Como se obtêm Amor?
Dando Amor.
Amando.

-Então o amor é um ser. Isso não aparece em nenhum livro que eu tenha lido -disse eu.
Ami sorriu e ligou os controles.
-É lógico que aparece. Em um.
-Em qual, Ami? Esse eu não li.
O menino do espaço começava a divertir-se.
-Leu, sim. Mais ainda: você o escreveu. Ali aparece.
-Em "Ami"?
-Em "Ami" -respondeu Ami.
-Não me lembro...
-Então leia de novo. Algumas pessoas falam de "posessão demoníaca", quando alguém comete barbaridades. Podem imaginar que as forças negativas formam um ser. Mas, se alguém está com o amor, ninguém pensa em falar de "posessão divina". Vocês são muito interessantes... Pense nisso. Melhor ainda é colocar em prática o conselho de Krato.
Vinka aproximou-se de mim.
-Para mim vai ser muito fácil... agora.
-Espero que você consiga estender o seu afeto para além de Pedrinho. Seu povo precisa de você, em Kia. Antes que voltem, mostrar-lhes-ei algumas gravações...
-Para que voltaremos a Kia? -perguntei alarmado.
-Não disse que estamos indo exatamente para Kia, mas o momento vai chegar.
-Então... não tem remédio?
-Vinka não pode ficar aqui para sempre. Ela deve voltar para seu mundo, escrever outro livro, continuar servindo. Você deve fazer o mesmo em seu planeta, mas antes vejam isso.
Detrás dos vidros, apareceu um mundo cinza-escuro. Não nos interessou: nem a mim, nem a Vinka. Ambos permanecemos de mãos dadas, olhando-nos com tristeza.
-Chega de dramas baratos -exclamou nosso amigo sorrindo.
-É que vamos nos separar...
-E qual é o problema? Não estarão afastados para sempre. Logo terão oportunidade de estar unidos eternamente. Vamos, vejam isso: a destruição de um mundo! -procurou entusiasmar-nos.
Nem mesmo aquela notícia nos interessou. Estávamos muito tristes.
Ao ver-nos assim, Ami apagou a imagem. Depois nos disse:
-Parte da evolução consiste em aprender a superar o apego, porque o espírito procura a liberdade.
-Mas nós nos amamos...
-O verdadeiro amor não é apego. Não aprisiona nem se aprisiona. Liberta e se liberta. Aqueles que se amam de verdade não precisam estar grudados como siameses... há, há! Querem receber esse castigo na próxima encarnação?
Não sabíamos se brincava ou se dizia a verdade, mas as suas palavras nos acordaram.
Ligando novamente o sistema que projeta imagens nos vidros, explicou-nos:
-Isto que vão ver aconteceu a um mundo que não conseguiu superar a sua violência e a sua maldade, apesar de todos os esforços daqueles que participaram do plano de ajuda para este mundo. Vejam:
A atmosfera estava escurecida por uma grossa camada de nuvens cinzentas. Observamos grande quantidade de naves que desciam ao planeta.
-Estão assistindo a uma "operação resgate". As naves descem para buscar aqueles que têm "setecentas medidas" ou mais, para salvá-los, porque o merecem. É, na verdade, algo muito triste, um fracasso. Todos os esforços foram em vão.
As imagens passavam uma após outra como uma espécie de documentário filmado. A Terra tremia em quase todos os lugares. As cidades costeiras eram varridas por gigantescas ondas. Apareceu uma nave-mãe igual à do Comandante.
-É necessário abrigar vários milhões de pessoas...
-Vários milhões!
-Há mais pessoas boas do que vocês imaginam... Muitas vezes a maldade é simplesmente uma rebeldia diante da injustiça, expressa por caminhos errados. Outras vezes, são maus hábitos coletivos, provocados por sistemas de organização ruins. Geralmente, os costumes ou a necessidade obrigam as pessoas a agirem mal; por isso, é necessário que sejam difundidas as mensagens que estamos enviando. Quanto mais e mais trabalhem, menores serão as probabilidades de que em seus mundos aconteça o que estão vendo aqui.
Mostrou cuidadosamente o trabalho de uma nave sobre uma cidade. Muitas pessoas eram "içadas" por meio de raios luminosos. Seus rostos mostravam surpresa ou temor. Em muitos casos, alegria.
-Por que está tudo tão escuro?
-Porque acabaram de explodir milhares de bombas nucleares. Logo começará a chuva radioativa. Depois, o planeta esfriará tanto que será impossível sobreviver.
-Por que não as resgatam?
-Não têm um bom nível -respondeu Ami.
-Ah! Observam seus níveis de evolução atravéz do "sensômetro"...?
-Neste caso não é necessário. Esta é uma comunidade retirada da civilização. Todas estas pessoas decidiram escapar dos problemas, em vez de trabalharem para resolvê-los. Não têm um bom nível. Agora, por terem desejado salvar somente "suas" vidas, perderam a vida... Deverão esperar por uma nova oportunidade em outro mundo. Para uma nova existência será...
As palavras de Ami; a visão de um mundo completamente escurecido pelas nuvens de pó contaminado; o espetáculo dos seres humanos morrendo num planeta que não parava de tremer, com montanhas de água cobrindo os continemtes, destruindo tudo ao passar, enquanto milhares de naves selecionavam somente alguns poucos milhões de pessoas, deixando a maioria condenada à morte. Tudo aquilo nos causou uma terrível angústia.
Vinka tinha lágrimas nos olhos.
-Parece-me terrivelmente cruel deixar essas pessoas ali abandonadas, elas que se retiraram para viver uma vida mais em contato com a natureza, quando viram que tudo estava perdido.
-Você se engana. Elas não escaparam quando tudo estava perdido, foi muito antes, quando ainda havia possibilidade de fazer alguma coisa. Talvez, o trabalho delas tivesse sido suficiente para salvar este mundo. Lembre-se de que o cântaro transborda com uma gota...
Apesar das explicações de Ami, pareceu-me vingança deixar ali essas pobres pessoas.
-Não se trata de vingança, mas de selecionar as "boas sementes". Unicamente com boas pessoas pode-se desenvolver uma civilização onde é possível dormir em paz, com a porta aberta ou deixar os bens de consumo à livre disposição das pessoas.
Aqueles que escapam não seriam "boas sementes". Se lhes fosse dada a oportunidade de chegar a um mundo como o que se quer construir, não teriam disposição de serviço e cooperação. Simplesmente lhes falta amor. No fundo, o que os impulsionou a fugir foi um egoísmo que pode ser disfarçado em qualquer coisa: vida sã, saúde, purificação, evolução espiritual inclusive mas, no fundo, é simples egoísmo. É como se um médico fugisse do hospital por medo ao contágio e dissesse que sua saúde é a única coisa que importa. Se todos os médicos pensassem assim... coitados dos doentes.

As explicações de Ami conseguiram me fazer entender melhor a situação. Mesmo assim, o destino dessas pessoas ainda me intristecia. Por isso perguntei:
-Não existe a possibilidade de criar um mundo bom, sem que milhões de pessoas sejam eliminadas?
-Excelente pergunta!
-Por quê?
-Porque é claro que é possível. Agora lhes mostrarei outras gravações. Aqui tenho o registro do que aconteceu em outro lugar. Vejamos.
Ami acionou novamente os controles. Nos vidros, apareceram novas imagens. Desta vez se tratava de um mundo muito parecido com a Terra ou Kia. As pessoas, também, eram quase iguais a nós, de várias raças, inclusive.
Numa importante cidade, havia grandes multidões diante das portas de um enorme edifício.
-Estamos assistindo a um momento histórico: acaba de ser criado o Governo Mundial. Os representantes escolhidos por cada país não são políticos comuns...
-Quem são, então?
-Servidores do Plano Cósmico. Este mundo começa a ser regido pela Lei de Deus, pelos princípios universais.
Vinka parecia fascinada.
-Que maravilha!
-Houve aí a união de muitos grupos espirituais, religiosos, ecológicos e pacifistas. Eles fizeram a proposta da convivência fraternal, praticada em todos os mundos civilizados e as pessoas decidiram acreditar neles... não houve outro caminho...
-Por quê?
-Porque houve um descalabro econômico em nível mundial. Por outro lado, devido a inúmeras experiências atômicas, à contaminação, a abusos na utilização dos recursos naturais, houve grandes desequilíbrios ecológicos e mudanças climáticas que afetaram a produção de alimentos. Apareceram novas epidemias, pestes, pragas, guerras em todo o mundo; guerras entre sistemas sociais, guerras por fronteiras, guerras por diferenças religiosas. Gastava-se todo o dinheiro em armas. Houve fome, miséria, medo... as pessoas se cansaram e, como havia só uma alternativa capaz de parar a loucura coletiva, pacificamente e de comum acordo, decidiram experimentá-la.

Por trás dos vidros, apareciam várias cenas.
-Agora, estamos vendo o momento no qual se executa a primeira medida do Governo Mundial.
Em todas as cidades, milhões e milhões de pessoas estavam reunidas diante de toneladas e mais toneladas de equipamentos de guerra: metralhadoras, fusis, canhões e todos aqueles elementos de destruição que tanto orgulho provocam em algumas pessoas de meu planeta.
-Que estão fazendo?
-Neste momento em cada país, ou melhor, "ex-país", em cada estado deste mundo se realizará a transformação das armas.
Vimos como as grandes chamas fundiam os metais. Nos portos, os barcos de guerra eram transformados em cargueiros. Nos aeroportos, os aviões de guerra, em naves de passageiros. Os tanques em tratores...
Lembrei das palavras do profeta Isaías, aquelas que aparecem no começo de meu livro anterior. Vou transcrevê-las aqui da forma como estão escritas na Bíblia:

"... e das suas espadas forjarão relhas de arados,
e das suas lanças, foices.
Não levantará a espada uma nação contra outra nação,
nem daí por diante se adestrarão mais para a guerra."

Enquanto as chamas fundiam os metais, num ato simbólico de paz e irmandade, as pessoas cantavam canções. Muitas choravam de emoção.
-Agora observem com atenção. Aqui aparece a melhor parte.
No céu surgiram vários milhões de objetos luminosos que começaram a voar em círculos ao redor das fogueiras. As pessoas os saudavam com emoção e alegria. Algumas naves desceram e seus ocupantes saíram para reunir-se com aqueles que participavam daquele ato que bania para sempre a destruição e a violência da face daquele planeta.

Atravéz de auto-falantes, os visitantes espaciais se apresentavam para as multidões: "Nós os saudamos, irmãos deste planeta. Este maravilhoso ato que vocês realizam hoje foi inspirado pelas forças construtivas do universo. Repercutiu no melhor de seus corações e impulsionou-os a lutar para salvar seu mundo. Vocês conseguiram superar o egoísmo, a ignorância, a desconfiança e a violência. Isto indica que alcançaram um bom nível para ingressar na Fraternidade Cósmica. Daqui em diante, não haverá mais sofrimento. Estamos aqui para oferecer-lhes toda a nossa bagagem de conhecimentos científicos e espirituais para que, dentro de muito pouco tempo, estejam organizados de acordo com a harmonia cósmica regida pelo Amor Universal...".
As pessoas abraçavam-se, levantavam suas mãos às naves, com gestos maravilhados e felizes.
Apesar de o espetáculo ser emocionante
-Vinka chorava abertamente- consegui dominar os meus sentimentos e fiz uma pergunta:
-Como é possível que essas pessoas não sintam medo diante da aparição das naves?
-A resposta é muito simples -disse Ami, sorrindo-. Isso é devido a toda uma difusão de informações que nossos amigos, os missionários, realizaram previamente. Todos os grupos motivados pelo amor reconheciam nossa existência e ajuda. Todos eles profetizavam, segundo nossas mensagens, que uma vez que se produzisse a unidade e a eliminação das armas, apareceriam as naves de seus irmãos do espaço. Isso foi criando uma consciência universalista nesta humanidade. Por isso suas missões são importantes.



Vinka, surpreendida pelo espetáculo fraternal que se desenrolava diante de seus olhos, expressou seu entusiasmo:
-Gostaria de estar ali! Leve-nos, por favor...
Ami começou a rir.
-Você não sabe o que está pedindo. Estas imagens já foram registradas há tanto tempo que, nos momentos em que aconteceram estes fatos, o homem de seus mundos desconhecia a escrita.
-Não pode ser...
-É melhor que acreditem.
-Por que você utilizou imagens tão antigas? Nenhum outro mundo se salvou desde aquela época?
A risada de Ami nos fez compreender que nos enganávamos.
-A razão pela qual lhes mostrei este mundo é porque, aqui, as pessoas são muito parecidas com vocês. Assim tudo lhes pareceria mais familiar, mas posso mostrar-lhes o mesmo espetáculo em vários milhares de mundos desta galáxia e em todas as épocas.
-De qualquer forma, eu gostaria de ir. Ver como evoluíram em tantos milênios -disse Vinka.
-Gostaria de poder levá-los, mas não temos tempo. Posso informar-lhes que este mundo, hoje, é muito parecido aos planetas civilizados que vocês conhecem. Existe só uma raça humana e...
-Só uma raça? Aqui vejo várias...
-Sim, mas com os anos foram misturando-se. Hoje é uma só: a que resultou da miscigenação de todas as demais.
Vinka pareceu ficar triste.
-Então... todas estas pessoas que vemos... estão mortas?
O rosto alegre de Ami nos fez pressentir que não era assim.
-Estão todos bem vivos e felizes.
Nossos olhares exigiram dele uma explicação. Em Ofir, ele me disse que um senhor que aparentava sessenta anos tinha, na verdade, quase quinhentos, mas essas pessoas deveriam ter milhares...

-Uma vez que um mundo ingressa na Fraternidade, toda a sua população permanece viva para sempre...

Nossas bocas abertas fizeram Ami rir.
-... Desculpem-me se estou rindo, mas as suas caras... eu os compreendo. É uma surpresa muito grande, mas é verdade. Nossas descobertas no campo científico e espiritual permitem-nos deter o envelhecimento celular e, quando um mundo ingressa na Fraternidade, entregamos-lhes todo o nosso conhecimento.
Não compreendi. Embora o homem de Ofir tivesse quinhentos, parecia mais velho que os demais, portanto havia um envelhecimento celular.
-Por que, então, o homem de Ofir não parecia jovem?
-Porque seu corpo não era tão jovem... -disse, com malícia.
-Não compreendo...
-Acontece que não são todos os que querem submeterse indefinidamente ao processo de interrupção do envelhecimento. Alguns evoluíram mais do que o resto de seus irmãos. Então, o mundo no qual vivem já lhes é "pequeno". Devem ir para mundos superiores mas, antes, precisam devolver o corpo que utilizaram. Não podem ir com ele para mundos superiores. Assim, deixam-no envelhecer até que não funcione mais...
-Até morrer?
-O corpo somente. Nos mundos da Fraternidade, as pessoas sabem como permanecer conscientes fora do corpo físico. Estão sempre com a consciência desperta. Assim passam do velho corpo ao novo, sem perder a consciência nem a memória... a vida eterna é uma realidade assegurada para aqueles que conseguem chegar a um mundo civilizado.
-Assegurada?
-Bem, é questão de saber interpretar as Sagradas Escrituras de seus mundos. Ali se promete vida eterna para alguns...
-Então... a morte...
-A morte não existe em nenhum lugar. Você acha que Deus é tão mau para permitir uma coisa assim? Unicamente existem mudanças de estado. O espírito é eterno. Para as pessoas dos mundos incivilizados não lhes é concedido o direito de mudar de corpo, conservando a memória da vida anterior. Isso produz a "ilusão da morte", mas nos mundos civilizados todos se lembram de suas experiências passadas.
Vinka escutava maravilhada.
-Então vale a pena chegar num mundo superior.
-É assim mesmo, mas repito: é preciso que isso seja conquistado. Nada se obtém sem esforço. Não se colhem ambroquinhas sem semear.
-Que coisa é essa de ambroquinha?
-Umas frutas muito gostosas do meu mundo...
Lembrei-me de que em sua visita anterior, ele tinha prometido levar-me ao seu planeta.
-A propósito...
-Sim. A propósito -disse Vinka- lembre-se de que você prometeu levar-me a sua casa.
-À minha casa? -fingiu surpresa-. Eu apenas disse que você conheceria o meu planeta. Só que não podem sair da nave nos mundos civilizados, por enquanto. Estamos indo justamente para lá, para Boneca Galática.

-O que á Boneca Galática?
-Assim se chama o planeta em que vivo. Logo chegaremos.
-Que nome bonito! -exclamou Vinka.
-Bem, pelo menos é mais agradável do que Kia ou Terra. Essas palavras não têm poesia.
Perguntamos a ele se todos os mundos civilizados tinham um nome como aquele.
-Quase todos, embora alguns queiram conservar os originais. Em geral, buscamos nomes poéticos para tudo: mundos, regiões, rios, montanhas, lagos, lugares, caminhos.
-Em Kia, colocamos os sobrenomes dos heróis.
-Guerreiros, você quer dizer -corrigiu Ami-. Como seus mundos são violentos e beligerantes... se vocês fossem mais evoluídos utilizariam nomes de artistas, cientistas e Mestres. Quando tiverem evoluído mais, procurarão imagens mais belas.
Entusiasmada pelo que acabava de ouvir, Vinka disse:
-Vamos, Pedrinho. Eu o convido a caminhar por estes campos. Vamos pela rua das aves azuis até a praça do espelho mágico...
Segurou minha mão e me levou para a sala posterior da nave. Gostei da fantasia que ela propunha, mas não pude acompanhá-la no jogo. Minha imaginação não funciona bem quando existem outras pessoas presentes. A timidez me bloqueia.
-Se o que você tem a mostrar é bom para os demais, guarde no bolso a opinião alheia -disse Ami, da sala de comandos-. Aprenda a ser você mesmo, sem pedir licença. Trate de compreender o que significa um coração com asas... com asas.

Vinka pareceu não gostar muito de que Ami se intrometesse em nossos jogos utilizando a telepatia. Por isso, fingiu falar atravéz de um alto-falante:
-"Pedimos à tripulação que não interfira nas coisas íntimas dos outros membros da nave".
-Você tem razão -disse Ami-. Nos mundos civilizados, não respeitar a intimidade das pessoas é um delito grave.
Vinka encontrou nisso motivo para uma brincadeira.
-Então, por que é que você não está preso?
Ami respondeu, rindo:
-Sinto muito. Tenho o grave defeito de captar pensamentos e vocês, como bons incivilizados, pensam num volume terrivelmente alto. É difícil não escutar o som de um aparelho de rádio a todo o volume. Acontece que vocês ainda não aprenderam a aquietar seus pensamentos. Se nós não o fizéssemos, imaginem a terrível cacofonia que teríamos que suportar, por sermos telepáticos! Por isso, quando vamos realizar trabalhos em seus mundos, preferimos transitar por zonas onde o "ruído" é menor.
Aquilo me interessou muito, mas não quis contrariar Vinka. Evidentemente ela queria conversar a sós comigo. Por isso, perguntei mentalmente:
-"Em quais zonas da Terra é menor o "ruído" dos pensamentos?
-Existem, em seus mundos, pontos localizados em lugares que correspondem a zonas mais sutis do grande organismo chamado planeta...
-"Não é igual em qualquer lugar?"
-Uma célula do cabelo não é igual a uma do cérebro. Do mesmo jeito, existem lugares especiais também nos planetas. Nesses pontos, as radiações são mais sutis; portanto, as pessoas que habitam esses lugares são menos "brutalhentas"; por isso, é mais suportável para nós transitar nessas regiões.
-Seria mais suportável se você nos deixasse conversar em paz -expressou Vinka.
-Está bem, mas tentem não fazer muito "ruído" com seus pensamentos caóticos e emoções descontroladas.
-"As emoções também fazem "ruído"? -perguntei mentalmente.
-As emoções negativas ou descontroladas são a pior fonte de "ruído". Não direi mais nada... Vinka pode tentar tirar-me da nave -riu- apesar de que não terão muito tempo para suas telenovelas baratas. Já chegamos em Boneca Galática.

Capítulo 15
Boneca Galática

Parecia um mundo de brinquedo, um povoado semelhante aos dos duendes de desenhos animados infantis. Muitas casas tinham forma de cogumelos de várias cores, outras eram esferas que flutuavam no ar, com janelinhas cheias de plantas e flores. Todos os habitantes que observei eram crianças. Absolutamente todos.
-Não somos todos crianças, apesar de que gostamos de manter essa aparência. Acontece que, internamente, somos todos brincalhões, infantis no bom sentido. É por isso que nosso mundo se chama "Boneca", uma coisa que serve aos pequeninos.
-Eu pensava que os mundos civilizados eram iguais em tudo -disse.
-Claro que não! Isso seria muito chato. Ao contrário, cada mundo se caracteriza por seu "estilo", dependendo dos gostos particulares de seus habitantes.
-Veja isso! -exclamou Vinka, ao ver um veículo aéreo que passava por perto. Tinha a forma de uma fruta e estava pintado com desenhos: rostos de animaizinhos sorridentes, flores, estrelas e nuvens.
-Nossos veículos não espaciais são feitos de acordo com a nossa fantasia. Se os vissem por dentro, ficariam loucos.
-Por que esta nave não é assim?
-Porque as naves espaciais devem ser construídas de acordo com as normas da Fraternidade. Isso se faz para evitar a desordem visual. Em algumas cidades e ruas de seus mundos se produz uma verdadeira "cacofonia ótica": um arranha-céu de aço e vidro ao lado de uma catedral medieval; letreiros, fios, postes... coisas que deixam um guarapodáctilo doente dos nervos...
Não tivemos tempo de perguntar de que se tratava, porque um gigantesco animal branco já se aproximava de nós. Parecia um urso de pelúcia. Tinha o tamanho de um edifício...
Ami, rindo, avisou-nos:
-Não se preocupem; ainda que nos engula, é um brinquedo divertido.
Exatamente. O "urso extraordinário" aproximou-se de nós, levantou a mão e segurou a nossa nave, sem tocá-la. Deve de ter sido atravéz de algum tipo de magnetismo Ami ria de nossa surpresa. Achamos que estávamos num parque de diversões, por esse motivo não sentimos medo, quando o urso nos engoliu e tudo ficou escuro.
De repente, uma luz cor-de-rosa iluminou a sala de comandos. Em vez de vísceras, costelas ou o interior do estômago, surgiu um espetáculo fascinante: uma infinidade de personagens como os dos contos de fadas movimentavam-se por entre os cenários absolutamente fantásticos: bosques irreais, castelos enormes, paisagens maravilhosas. Não consegui saber se aqueles seres tinham vida ou se era uma espécie de filme. Talvez fossem bonecos mecânicos.
-São persongens de antigos contos infantis. Isto foi filmado com pessoas fantasiadas e, agora, estamos vendo a projeção com o sistema tridimensional ou "hiper-real".

Fomos descendo pelo interior do corpo do boneco. Mais abaixo tudo se tingiu de uma cor verde-clara muito bonita. Agora, a visão era ainda mais fantástica: por entre os cenários, em formas indefinidas, apareciam silhuetas e cores que se modificavam e alguns seres parecidos com fadas flutuavam. Seus corpos eram transparentes...
-Isto é um filme de seres que habitam outros planos vibratórios, em outras dimensões. São fadas, gnomos, ondinas, sílfides e salamandras, entre outros.
Vinka estava impressionada.
-Então esses seres existem de verdade?...
-Claro que existem. São tão reais como você, eu ou os tripping...
Já não perguntávamos nada, quando Ami mencionava palavras estranhas. Compreendíamos que brincava, ainda que nem sempre tivéssemos certeza disso.
-Agora, entraremos na última parte. Não precisam sentir medo.
Dessa vez, foi uma luz âmbar-topázio que inundou o interior da nave. Ao observar pelos vidros, vimos um desfile ainda mais incrível: os seres que o formavam tinham corpos acesos, corpos de fogo. Havia os de chamas vermelhas, violetas, amarelas, azuis, verdes e brancas. Tinham forma humana, ainda que sem traços definidos, já que eram pura chama, excetuando os olhos. Que olhos! Olhares fascinantes, penetrantes, cheios de ternura e força.

Um dos seres nos olhou fixamente, aproximou-se de nossa nave e depois, o assombro: atravessou as janelas e entrou na sala de comandos. Pensei que tudo se queimaria, que se produziria um incêndio. Tive medo de que aquele ser de chamas vermelhas muito fortes pudesse me queimar...
-Não temam -disse Ami, quando viu Vinka com os olhos muito abertos, contemplando aquele chamejante ser que dançava entre nós, iluminando o interior da nave com a cor de suas chamas-. Tudo é uma brincadeira -disse.
O tipo esbraseado e vermelho saiu, atravessando as janelas. Outro, de cor amarela, entrou em nosso veículo e executou uma dança assombrosa.
-Se vocês soubessem compreender a linguagem de seus movimentos, descobririam grandes verdades universais -explicou Ami.
Quando o ser amarelo se retirou, outro se apresentou. Assim, todos aqueles personagens "acesos" foram passando um por um. Quando saiu o último, de cor branca, uma grande porta abriu-se. Saímos pelas costas do "urso gigante".

Ami esperava feliz por nossas perguntas.
-Quem eram esses seres?
-Eles são os habitantes dos sóis. Mas, é claro que tudo foi um filme, uma projeção.
-Não pode ser projeção. Eles estavam no interior da nave. Não havia nenhuma tela aqui...
-Um raio de luz pode ser projetado através dos vidros...
Não compreendemos o sistema, mas não tivemos outro remédio senão acreditar nas palavras de Ami.
-Se algum deles tivesse realmente penetrado em nossa nave, teríamos nos derretido, desintegrado...
-Eles têm uma temperatura muito elevada?
-Não somente a temperatura, mas um nível vibratório insuportável para nós... Bem, agora vamos para a minha casa.

A nave adquiriu uma velocidade incalculável. Em poucos segundos, chegamos perto de uma das extremidades daquele planeta. Tudo estava absolutamente nevado. A noite caía.
-A minha casa está por ali, vejam!
Observamos um povoado realmente encantador. Imediatamente me lembrei de um enfeite que tínhamos em minha casa: uma bola de cristal cheia de água. Em seu interior, havia uma casinha, uma paisagem campestre. Ao virá-la, começavam a cair pequenas partículas brancas parecidas a flocos de neve. Fora da nave, o espetáculo era bastante parecido. A neve caía em abundantes e silenciosos flocos. Tudo estava forrado de branco: árvores, colinas e casas. Estas últimas eram todas esféricas. Muitas não tocavam o chão, flutuavam vários metros acima. Tinham amplas janelas iluminadas por luzes interiores. Algumas eram completamente transparentes, feitas de um material semelhante ao vidro. Não vi cortinas. Compreendi que as grandes janelas podiam ser escurecidas ou iluminadas segundo a vontade de seus moradores. Em geral, podíamos observar toda a atividade do povoado através das janelas.
-Não temos muito que esconder -disse Ami, sorridente.
-Por aqui, as coisas não são de brinquedo -observou Vinka.
-É uma questão de estilos. Adotamos o tipo de construção mais adequado às características geográficas e climáticas. Os povoados que vocês viram anteriormente estão localizados nas zonas mais quentes. Povoados como aqueles não seriam compatíveis com nosso clima.
Perguntei se os habitantes das regiões mais frias eram menos brincalhões que os das zonas quentes.
-Nas regiões mais quentes, as pessoas têm mais inclinação para a alegria; nas mais frias, os jogos são mais calmos, porque tudo no universo é um jogo -cada um com seu estilo: os mundos, os povos, as instituições e as pessoas. Alguns se inclinam para jogos terríveis como nos mundos incivilizados e ficam longe do "Jogo de Deus"; outros, para jogos mais elevados, mais próximos da paz, do bem, do amor e aproximam-se do verdadeiro sentido do universo.
Vinka ficou pensativa.
-Nunca me disseram que Deus brinca. Pensava que Ele era muito sério. Cheio de amor, mas sério. E você fala do "Jogo de Deus". Que jogo é esse?
-O universo é uma criação da imaginação de Deus. Isso é uma arte, uma espécie de jogo. As almas vão, através das vidas, aprendendo as "regras do jogo", até que conseguem captar seu verdadeiro sentido: a vida só tem um segredo, uma só fórmula que leva diretamente à felicidade.
-Bom comportamento -eu disse, sem muito entusiasmo, lembrando os conselhos de minha avó.
Ami e Vinka riram. Depois nosso amigo explicou:
-"Bom comportamento" pode ser muitas coisas. Se você se refere a obedecer a regras e ordens, por medo ao castigo, isso não leva a nada. Existe, entretanto, um "bom comportamento" que leva infalivelmente à felicidade.
-Então, diga de uma vez o que é -disse Vinka impaciente.
-O único segredo, a única fórmula ou receita para ser feliz, consiste em viver com amor -disse Ami, levantando-se da poltrona de comando.
-Parece que você já disse isso...
-Claro que já disse. De uma forma ou de outra já foi dito. Já foi dito milhares de vezes. Todos os grandes Mestres de todos os mundos não falaram de outra coisa. Toda religião verdadeira o diz e, se não o diz, não é verdadeira, não está baseada na Lei Fundamental do universo. Não existe nada de novo no amor. É a coisa mais antiga do cosmos. Apesar disso, milhares e milhares de pessoas pensam que o amor é sentimentalismo e debilidade humana. Acham que falar de amor é coisa de bobos e que, se o ser humano tem algo bom, está do lado do intelecto e das teorias, da astúcia, do rendimento material ou da força bruta. São como um homem que se asfixia numa caverna e ri do ar puro. Por isso, tudo o que se diga a respeito da necessidade básica dos seres humanos -o amor- nunca será suficiente. Existem aqueles que não o ignoram, mas não o colocam em prática nas suas vidas, ou não o bastante; por isso, não conseguem obter a felicidade. Tudo o que se faça para lembrar às pessoas da necessidade básica do ser humano, das sociedades e dos mundos, será pouco.
-Dos mundos?
-Um mundo apenas sobreviverá se reconhecer no amor a sua salvação. Enquanto a humanidade de um planeta não considerar o amor como o fundamento de sua civilização, está correndo o perigo de se destruir, porque existe confusão e rivalidade. Isso está acontecendo em seus mundos. Daí, suas missões serem tão importantes. Na verdade, nesses momentos críticos, não existe trabalho mais sério que o de contribuir para salvar a humanidade.


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